Adaptações
Ambiente Inclusivo de Dança
Os exercícios de Dança são propostos para QUALQUER criança, independente de sua diversidade funcional. Em alguns casos de crianças com alterações motoras , cognitivas e de linguagem algumas ADAPTAÇÕES podem e devem ser feitas. Nenhuma criança quer ser excluída, separada ou deixada de lado. Toda criança gosta de sentir-se pertencente à um grupo. A palavra inclusivo sugere um ambiente onde todos os corpos possam sentir-se participantes, onde as individualidades possam ser celebradas e valorizadas.
A primeira postura que o professor (a) de Dança precisa ter ao adotar um ambiente inclusivo, é o de tentar desconstruir padrões de beleza e eficiência tão comuns na Dança. Evitar comparar uma criança com a outra, e sim com ela mesma, enaltecendo pequenas transformações frente a desafios propostos.
Uma das questões mais importantes envolve estar atento (a) ao POTENCIAL da criança, ao que ela dá conta de fazer. Valorizar e reforçar a sua individualidade. Identificar as habilidades de cada criança é fundamental. Com isso você pode fazer uma avaliação diagnóstica, e planejar a sua aula considerando 5 habilidades básicas comumente envolvidas em uma aula de Dança:
Compreende o reconhecimento de partes específicas do corpo como articulações e ossos. Crianças com alterações cognitivas apresentam maior dificuldade de nomeação e identificação dessas partes.
A criança pode precisar de assistência individual para realizar as atividades, e muito reforço positivo. Verbalize a parte do corpo, e faça uso do toque suave com as mãos ou objetos (ex: bolas e tecidos).
Caso perceba que a criança consegue seguir as orientações corretamente, dê assistência apenas quando necessário, encoraje sempre respostas motoras independentes e reforce novas formas de exploração.
Trata-se da capacidade de relacionar-se com o espaço pessoal (aquele que compreende o entorno do nosso corpo de braços abertos, sem deslocamento) e o espaço externo, ocupado por objetos e pessoas. O professor (a) deve estar atento (a) ao nível de segurança da criança com o auxílio locomoção, pois ela pode estar ainda em uma fase de adaptação ao auxílio.
Ofereça assistência tátil e verbalize o direcionamento espacial (ex: quando falar de nível baixo, explicar agora você está próximo do chão). Com a criança em cadeira de rodas você deve procurar adaptar os níveis às suas capacidades (ex: levar o tronco, cabeça ou braços mais próximos ao chão).
Usar “pistas” no chão como fitas adesivas ou giz facilita o entendimento de direções espaciais como retas, curvas, zig zag e etc. Oferecer tempo extra e repetir as orientações de acordo com as necessidades de cada criança.
É preciso estar atento (a) às crianças com déficits auditivos, e alterações de linguagem. Se possível, esteja junto com um intérprete de libras. Promova a projeção e amplificação adequada da voz. Enuncie com clareza e fale diretamente às crianças que fazem leitura labial.
Use diagramas, vídeos e outros recursos. Use pistas verbais e demonstração e sempre use o toque tátil, suavemente, quando necessário. Reduza os ruídos do ambiente e garanta que o contato visual esteja sempre disponível. Repita as instruções bem próximo da criança.
Pisque luzes ou repita o nome da criança para chamar sua atenção ao comando. Ofereça sempre reforço positivo sobre as respostas aos comandos sugeridos. Crie grupos de aprendizagem entre pares. Repita as informações verbais quantas vezes forem necessárias.
Reforce visualmente, verbalmente e isole uma pequena parte da sequência para ser trabalhada. Comece sempre com padrões mais simples de movimento e vá aumentando a complexidade de acordo com as respostas de cada criança. O mesmo movimento pode ser feito de maneiras diferentes a depender de cada corpo. Não fique preso ao padrão de heterogeneidade na sequência, tão comum em técnicas de Dança.
Limite a quantidade de material a ser trabalhado. Dê as instruções em etapas, uma por vez e espere o tempo de cada criança. Espere cada etapa finalizar para continuar , caso a turma esteja adiantada peça que repitam e aprimorem enquanto esperam o colega que ainda está numa etapa anterior. Este gerenciamento dos tempos é uma das partes mais importantes da aula.
Observando estes aspectos, você terá bases para pensar principalmente no tipo de instruções e comandos que vai usar durante a aula. Por exemplo, uma criança que não reconhece o esquema corporal, precisará de mais apoio sensorial, com toques suaves com as mãos ou objetos nas partes do corpo trabalhadas. A mesma coisa com crianças com alterações visuais. Ao propor um movimento para imitação é interessante que você reforce a importância de cada um fazer do jeito que o seu corpo “entender” o movimento, dentro de suas possibilidades.
Lembre-se que os auxílios para locomoção (cadeira de rodas, andador, bengalas) são como extensões do corpo da criança. Eles fazem parte do movimento de cada um e precisam ser tratados com naturalidade. São dispositivos de movimento, que proporcionam experiências corporais únicas. Se possível, oportunize a todas as crianças da sala a experimentação dos objetos para que possam sentir os diferentes movimentos.
Tipos de deficiência comuns em salas de aula:
A Paralisia Cerebral (PC), segundo a classificação de Martin Bax, é a desordem da postura e do movimento, secundária à lesão não progressiva do cérebro em desenvolvimento. O termo tem origem na palavra inglesa cerebral palsy e desperta muita controvérsia em suas traduções.
Muitos tradutores acreditam que o significado da paralisia gera muita confusão em relação ao entendimento da paralisia cerebral, pois traz uma ideia de paralisia completa, imobilidade. Por isso alguns escritores ingleses e americanos de Neurologia preferem o uso do termo paresis, pois neste caso a força estaria presente, ainda que prejudicada.
Quando se trata de uma lesão de tecido nervoso, a área do cérebro que foi afetada não se recupera. A criança fica com uma espécie de “cicatriz” que não aumenta de tamanho, mas também não reduz, podendo interferir em uma série de aspectos do seu desenvolvimento motor e cognitivo, e deixar uma serie de sequelas, a depender da localização, etiologia e extensão da lesão. Elas provocam alterações de motricidade, sensibilidade, cognição e comportamento.
A sua classificação é baseada na distribuição dos membros envolvidos, podendo ser uma hemiplegia, di, tri ou tetraplegia.
A PC pode ser classificada, ainda, de acordo com as alterações de tônus muscular. Essas alterações podem ser de aumento (hipertonia), diminuição (hipotonia) ou ausência completa (atonia). As paralisias também podem ser do tipo flácidas ou espásticas, estas últimas sendo as mais frequentes e resultantes de uma lesão ocorrida nas áreas motoras do córtex cerebral.
A paralisia espástica provoca a hipertonia do músculo, com diminuição da força e hiperreflexia (aumento dos reflexos musculo-tendinosos, como por exemplo, o reflexo patelar). Isto provoca, na criança, uma movimentação involuntária de resistência, além de ocasionar deformidades articulares ao longo do seu crescimento. Acredita-se que quando a lesão se localiza principalmente em núcleos da base do encéfalo, a paralisia se apresenta em forma de coreoatetose. Na coreoatetose ocorrem, simultaneamente, os movimentos de coreia e atetose, em todos os membros.
Numa sala de aula inclusiva de Dança, quando nos deparamos com uma criança com PC é importante estar atenta (o) que cada criança é única e apresenta um quadro que pode envolver, ao mesmo tempo, alterações cognitivas como a deficiência intelectual, alterações de funções executivas como atenção e memória, alterações de linguagem, comportamento e alimentação, alterações sensitivas e perceptivas, epilepsia, déficits sensoriais, além das alterações motoras.
O TEA (Transtorno do Espectro Autista), segundo o DSM-V, é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado pelo déficit persistente da interação social em múltiplos contextos. Compromete a comunicação social, o comportamento e , muitas vezes, o movimento funcional. O nível de severidade do transtorno varia em três níveis (leve, moderado ou severo), de acordo com suporte necessário.
O TEA é frequentemente marcado pelos movimentos repetidos (estereotipias), resistência a mudanças na rotina e dificuldades de comunicação. Numa aula de Dança com pessoas com esse transtorno, é fundamental o uso de recursos que estimulem a interrupção natural destes padrões, promovendo o interesse em outras movimentações. Para isso, os objetos auxiliares são excelentes aliados.
A mielomeningocele, também conhecida como espinha bífida aberta, é uma malformação congênita da coluna vertebral da criança em que as meninges, a medula e as raízes nervosas estão expostas.
As crianças com esse diagnóstico comumente apresentam:
Deformidades Ortopédicas
Deformidades ortopédicas estão presentes na mielomeningocele e geralmente se manifestam com diminuição da função neurológica abaixo do nível da lesão na coluna, levando à dificuldade para andar, pé torto congênito, luxação de quadril e escoliose. O grau de deformidade depende do nível da mielomeningocele e de sua extensão.
Hidrocefalia
A maioria dos pacientes com mielomeningocele tem hidrocefalia associada, em uma frequência de cerca de 80%. A hidrocefalia é definida por um acúmulo de LCR (líquido cefalorraquidiano) nos ventrículos cerebrais, determinando aumento do perímetro cefálico e podendo gerar hipertensão intracraniana. Isso pode ocasionar alterações cognitivas e de comportamento típicas de lesões cerebrais.
Alterações Esfincterianas
Devido ao comprometimento do tecido neural, pacientes com mielomeningocele podem apresentar bexiga neurogênica espástica (com capacidade pequena e contrações involuntárias) ou flácida (sem contração). Dependendo da forma, a infecção do trato urinário de repetição pode ocorrer, sendo imprescindível o acompanhamento urodinâmico. Além disso, incontinência fecal e/ou constipação intestinal também podem estar presentes.
Grande parte das crianças com mielomeningocele evoluem para o uso de órteses e cadeira de rodas para locomoção.